5 perguntas para Fashion Revolution

Representante do movimento, Aline Andreazza Bussi explica como o Fashion Revolution quer promover mudanças na indústria da moda.

Comemorando 10 anos no Brasil em 2024, o movimento global busca promover mudanças na indústria da moda, visando torná-la mais sustentável, transparente e ética.

Sua missão é incentivar uma moda limpa, segura, justa e responsável para todas as pessoas, valorizando o meio ambiente e os direitos trabalhistas. Por meio de atividades de comunicação, educação, colaboração e mobilização, o movimento busca conscientizar consumidores, marcas e governos sobre os impactos da indústria da moda e incentivar a adoção de práticas mais responsáveis em toda a cadeia de produção.

Como representantes da moda circular no país, é claro que a TROC não ficaria de fora da programação! Aline Andreazza Bussi é pesquisadora, mestra em design de moda e representante do movimento em Curitiba. Em um bate-papo com a TROC, ela conta quais são os maiores desafios do Fashion Revolution, como consumidoras podem fazer parte da revolução e muito mais! Confira.

Qual é a missão do Fashion Revolution?

Somos um movimento global que atua com a missão de promover mudanças, para que a moda conserve e restaure o meio ambiente, valorizando as pessoas acima do crescimento e do lucro.

Existimos para que a moda seja limpa, segura, justa, transparente, diversa e responsável para todos e todas. Nós atuamos por meio da comunicação, educação, colaboração, mobilização e participação.

No Brasil, operamos desde 2014 desenvolvendo projetos, realizando atividades e fomentando a união de uma rede de pessoas, iniciativas e organizações do setor. Em 2018, nos tornamos Instituto Fashion Revolution Brasil, uma organização da sociedade civil.

Quais são os principais desafios enfrentados pela indústria de moda em relação à sustentabilidade?

Ser sustentável de fato, é o principal desafio para a indústria da moda que envolve muitos processos, iniciando na escolha da matéria-prima, seguindo para a criação e desenvolvimento fabril, confecção e distribuição. Para então encontrar o consumidor no cabide de uma loja ou na vitrine de e-commerce. A sustentabilidade deve ser integrada no dia a dia das empresas pertencentes à indústria da moda, e as marcas devem comprovar suas práticas, e não apenas se dizer “sustentável, orgânica ou ética.”

Demonstrar seus processos, fornecer condições de trabalho e remuneração adequadas, conhecer a fundo seus fornecedores são algumas das práticas que envolvem a sustentabilidade na moda. Para assegurar essas condições é necessário informar e educar os consumidores. Existem selos e certificações que podem comprovar se a marca não está praticando apenas o “marketing verde” ou “greenwashing”, mas o motivo pelo qual ela é realmente sustentável.

A transparência também é um grande passo que envolve a confecção de produtos de vestuário. Trata-se de um desafio complexo, porém não impossível de ser executado.

Como consumidoras podem fazer parte do Fashion Revolution?

Existem diferentes maneiras de participar da revolução. Cada um de nós tem o poder, como cidadãos globais, de transformar o sistema atual. Não precisamos fazer tudo, mas precisamos que todos façam algo. Portanto, ser um consumidor curioso já é um bom começo.

1. Antes de comprar: Pesquise e reflita. Eu preciso dessa roupa? Posso comprar em um brechó? Tem alguma marca ou produtor local que trabalhe com roupas ou materiais em desuso?

2. Pergunte às suas marcas favoritas: Quem fez minhas roupas? Confira a etiqueta da sua roupa e procure saber de que material e onde ela foi feita. Desvende as histórias por trás das roupas e compartilhe as descobertas em suas redes sociais.

3. Antes de descartar: Experimente arrumar, costurar, customizar, trocar ou vender. Manter nossas roupas por mais tempo é uma maneira simples e eficaz de diminuir nosso impacto.

4. Compre de quem faz: Apoie o comércio local e a moda nacional. Compre do seu vizinho, da amiga que faz camiseta ou daquela senhorinha da feirinha que faz um trabalho artesanal incrível. Ao presentear, escolha um produto feito sob encomenda para aquela pessoa que você conhece melhor do que ninguém. Não estamos falando de jóias apenas, mas de acessórios produzidos com materiais que seriam descartados e podem surpreender ainda mais.

Esse ano vocês comemoram 10 anos de Fashion Revolution Brasil, parabéns! Como a indústria da moda mudou durante essa década?

Muito obrigada! A jornada é gratificante e trabalhosa, mas ainda há muito por fazer.

Ao longo dos 10 anos, percebemos que a preocupação com a sustentabilidade impulsionou mudanças no cenário da indústria da moda global, muitas delas causadas pela pandemia da Covid-19 e por mudanças no comportamento do consumidor. Novos modelos de negócios, ampliação do e-commerce, impressão de produtos em 3D, reuso de materiais como o upcycling e o desenvolvimento de fibras de fontes renováveis colaboraram para o avanço tecnológico da indústria da moda.

Em nosso Índice de Transparência da Moda Brasil, produzido desde 2018,  identificamos um aumento de núcleos de sustentabilidade dentro das empresas, a adoção de práticas de reuso, o monitoramento da pegada de carbono e a demanda maior por certificações ambientais.

Embora o progresso no setor seja animador, grande parte das empresas nacionais não possuem recursos para atuar em tais condições. Dessa forma, continuaremos a buscar alternativas para que hajam mudanças sistêmicas nas formas de produzir e consumir nossas roupas.

Quais são as particularidades e desafios da indústria de moda brasileira, especificamente?

A indústria de moda brasileira encontra-se entre os quatro maiores produtores mundiais de peças de vestuário e ocupa o setor têxtil e de confecção no segundo lugar, como maior empregador na indústria nacional. O estado do Paraná é conhecido nesse setor principalmente pela produção do jeans e da seda exportada para a confecção de produtos de marcas de luxo.

Contudo, a moda brasileira vem sofrendo com o domínio de marcas de fast fashion estrangeiras, que conquistam cada dia mais consumidores no país. Isso torna fundamental olhar para o mercado interno, conhecer as marcas nacionais e valorizar a potência da indústria da moda brasileira, pela sua capacidade produtiva, mas principalmente pela identidade multicultural que o país possui.

Acredito que os desafios da indústria da moda brasileira se encontram em viabilizar a produção industrial de forma responsável, realçando e valorizando a identidade da moda nacional, para que os consumidores optem e se sintam orgulhosos em vestir um produto feito no Brasil.

Seguimos.

Fontes: (Aguilera. J, em Carta Capital: https://abrir.link/NrUje  / Artuso. E, Design sustentável / Berlim. L, Moda & Sustentabilidade / Fashion Revolution: @fash_rev /@fash_rev_brasil)